
Uma coisa é morar na Califórnia… A outra é morar no Vale do Silício, região americana responsável pelas maiores inovações tecnológicas dos últimos tempos.
E por isso pedi para a Waldana, do Acontece no Vale, nos contar como é a experiência de morar e trabalhar nesta parte dos EUA. Veja o que ela tem a nos dizer na entrevista a seguir:
Viver nos EUA: De parte do Brasil você é? Há quanto tempo você mora aqui? Você poderia contar sua história – como veio morar nos EUA?
Waldana: Eu vim para os Estados Unidos pela primeira vez em 2005 fazer um intercâmbio, o famoso work experience. Neste ano aconteceu duas coisas que mudaram o rumo da minha história: me apaixonei pelo mundo das viagens e conheci o grande amor da minha vida.
Morei uma temporada em Boyne Falls- Michigan, outra em Fort Lauderdale na Flórida, mas como meu marido cursava ciência da computação San Francisco era um dos destinos que sempre sonhamos em passar um tempo. Dizem que quando queremos muito algo o universo conspira a nosso favor.
Eu estava afim de dar continuidade nos Estudos e meu marido recebeu uma proposta de emprego no Vale do Silício, então juntamos o útil ao agradável 😀 E aqui estamos: San Francisco, Califórnia! Eu morava em Balneário Camboriú em Santa catarina antes de me mudar e parte da minha vida continua lá.
V.N.E.: Como foi seu processo de adaptação, tendo em vista as diferenças da sua vida no Brasil e aqui?
Waldana: Eu amo o Brasil, mas vou dizer que o que mais pesa é ficar longe da família. O restante a gente vai se adaptando aos poucos. Claro que tem a nossa comida boa, os amigos, a praia e muita coisa que faz falta, mas acho que cada escolha é uma renúncia. E no geral, os Estados Unidos é um país incrível. Eu vim pra aprender e de cabeça aberta para as novas experiências.
V.N.E.: O que você mais curte no Vale do Silício?
Waldana: Eu poderia fazer uma lista enorme de tópicos para responder esta pergunta, não é à toa que eu escrevo um blog chamado Acontece no Vale, eu curto muita coisa que acontece no Vale do Silício.
A primeira são as pessoas, a grande maioria dos moradores são imigrantes ou de ascendência estrangeira e acho que por isto todo mundo se respeita muito. O brasileiro é muito bem visto por aqui.
Diversidade, liberdade de expressão, tolerância, são palavras muito comuns pra descrever as pessoas por aqui, que são inclusive super preocupadas consigo mesmo, pensam no meio ambiente, na saúde.
Além disso, a receptividade e o clima de colaboração são surpreendentes. Se você diz que é de outro país as pessoas admiram sua coragem de sair da zona de conforto. Se você fala inglês de um jeito diferente, elas dizem que seu sotaque faz parte de quem você é.
Está todo mundo pronto para te ouvir, te ajudar, te conectar. Você é encorajado a fazer o que ama e o que quer que você faça é visto como algo especial e daí surgem grandes ideias e empresas que revolucionam o mundo.
V.N.E.: O que você menos curte na área?
Waldana: O trânsito, o preço do aluguel e a competitividade. Carro e San Francisco são duas coisas que não combinam, com o boom da tecnologia o aluguel é insano até pra quem ganha um bom salário, vejo que muitos moradores foram obrigados a largar a cidade porque realmente não tem como se manter, cada vez tem mais moradores de ruatambém, o que é muito triste porque de certa forma estamos contribuindo para este índices aumentem.
Percebo também que os profissionais são super qualificados e tem muita competitividade e muita pressão, até as crianças precisam ser os melhores – a taxa de suicídio é enorme. Percebo que muitos estão mentalmente muito cansados, muito estresse, desânimo. Aqui é a terra do Go Big or Go Home.
V.N.E.: O que mais te surpreendeu assim que você chegou aí? Com o que foi mais fácil e difícil de se acostumar assim que você chegou nos EUA?
Waldana: O que mais me surpreendeu foi ver a tecnologia sendo empregada em cada detalhe para facilitar a vida das pessoas. É tudo muito fácil, muito simples e moderno. Parece que no Vale do Silício as pessoas já vivem alguns anos no futuro.
E estamos falando em impressoras 3D, realidade aumentada, realidade virtual, carros autônomos, inteligência artificial. Tecnologias que já estão presentes em nosso dia-a-dia e dentro das nossas casas.
É muito fácil se acostumar com um robô limpando seu carpet, de chamar um uber pool e compartilhar o preço da corrida com outras 3 pessoas, de ter um aplicativo te ajudando em qualquer tarefa.
O que mais me surpreendeu não sei se negativamente, mas foi um susto… é que no Vale eles valorizam muito mais as pessoas que estão dispostas a arriscar e que tem uma boa ideia. Seu diploma ou universidade não diz muito sobre você!
Eu vim muito focada em estudar, fazer um MBA e mudei muito meu ponto de vista em relação a educação. As tecnologias mudam muito rápido, as habilidades são muito específicas, o investimento é muito alto e o mercado de trabalho é super exigente.
Além disso, você precisa de um inglês impecável, provar pra todo mundo do que você é capaz, precisa de permissão pra trabalhar, construir um currículo nos padrões americanos, entender o mercado de trabalho e por aí vai.
V.N.E.: Que atrações turísticas (ou não tão conhecidas) você recomendaria para os que desejam visitar sua área?
Waldana: Eu recomendo que todas as pessoas passem pelo menos 4 dias em San Francisco, a cidade é incrível e tem muita coisa pra ver. Eu moro há 3 anos na Bay Area e me surpreendo todos os dias. Acho que os visitantes estão muito adaptados ao roteiro Costa da Califórnia de San Francisco a LA e Vegas e veem tudo correndo, aproveitam muito pouco.
Eu fui pra Mendocino e fiquei na casa da tiazinha do Airbnb, fui pra Sierra e fiquei na cabana do Glen, foi tão bacana que nem o nome dele eu esqueci.
Estas experiências são as que marcam de verdade e acho que as pessoas precisam vivenciar estas coisas quando vão pra um destino novo. Angel Island, Tiburon, Point Reyes, são locais excelentes pra conhecer nos arredores de San Francisco. Se for pra Napa faça além do tour nas vinícolas, faça uma degustação de azeites de oliva.
O Yosemite é imperdível, mas vá além e conheça a rodovia 395 – uma das rotas mais cênicas que já fiz na vida. E ah, todo mundo deveria fazer um tour no Vale do Silício. Dou dicas de todos estes destinos e muitos outros no blog.
V.N.E.: Quais as opções de lazer que a área oferece para seus habitantes?
Waldana: Não sei dizer o que San Francisco não oferece, tem tudo por aqui! Se você gosta de arte, música, museus, teatros, bons restaurantes, shows, baladas, compras, atividades ao ar livre, paisagens cênicas San Francisco é o destino ideal.
O Eventbrite e o Meetup, Pinchit são excelentes plataformas que oferecem uma infinidade de eventos todos os dias, que vão desde uma reunião informal para treinar o inglês até um evento para discutir tecnologia.
Sites como o Fun Cheal San Francisco trazem uma série de eventos que você pode curtir de graça em toda Bay Area, você pode fazer um Walking para conhecer melhor a cidade, o TodayTox dispões de ofertas exclusivas de tickets para teatros, concertos e atrações com 50% de desconto todos os dias. Enfim, independente do que a pessoa gostar tem opções de lazer na região.
V.N.E.: Como é trabalhar em Silicon Valley em comparação com o restante do país e no Brasil? E o glamour pelo qual a área é famosa, é algo tangível ou nem tanto?
Waldana: Só quem está do lado de fora acha que a região é glamurosa, não é por aí. Acho que tem muitos benefícios e regalias para que os funcionários possam produzir mais e melhor e as empresas remuneram muito bem determinadas áreas, mas as pessoas ralam muito, como disse, a pressão e a competitividade é enorme. Se você quer entrar em uma empresa top, vai concorrer com o cara que se formou ontem em Stanford!
Acho que este glamour é porque muitos só veem a parte boa do negócio. Vejo muitos brasileiros achando que só estar fisicamente no vale pra conseguir um investimento milionário e fazer as coisas acontecerem, mas é bem possível que não só a ideia já exista por aqui, como tenha umas 4 empresas fazendo melhor que você, que são capazes de contratar um time para desenvolver melhor o mesmo produto muito mais rápido. Além disso o custo de vida, o custo de funcionário, é “fora da casinha”.
V.N.E.: Qual é o perfil típico do morador do Silicon Valley, na sua opinião?
Waldana: Estrangeiros inteligentes e revoltados que querem fazer algo acontecer. O cara que não estava satisfeito com o trabalho no seu país e queria uma oportunidade melhor. O outro que tinha uma ideia fantástica e quis montar o próprio negócio ou o que está dentro da empresa com um cargo super bacana e quer sair para revolucionar.
V.N.E.: Você trocaria sua vida em Silicon Valley pela vida em outro estado ou região americana?
Waldana: Trocaria sim. Se eu pudesse passaria uns meses em cada estado para conhecer melhor o país. Acho que cada estado americano tem suas particularidades e são fantásticos. Além do mais eu amo viajar e não me incomodaria se tivesse que mudar amanhã ou passar um tempo vivendo num trailler.
V.N.E.: Você já viveu em outro estado/cidade americana? Como descreveria as diferenças de vivência nas duas (ou mais)?
Waldana: Vivi em Michigan e o problema de lá é a neve e o frio…muita neve e muito frio, as pessoas acabam sendo até mais introvertidas por isto – pra passar um tempo ok, mas não pra viver.
A Flórida é linda, mas tem tanto latino e tanto brasileiro trabalhando por lá que você parece estar no próprio Brasil às vezes. Acho que a Califórnia é o meio termo e San Francisco não neva e não faz muito calor, então acaba sendo o ideal.
V.N.E.: Que conselhos você teria para os que sonham em morar e trabalhar em Silicon Valley?
Waldana: Acho que a experiência de estar no Vale é fantástica e eu recomendo de verdade que todas as pessoas que tenham este sonho venham pra morar/ trabalhar mas desde que estejam muito bem preparadas. Eu jamais recomendo que você venha pra este canto do país pra “tentar a vida” e imigrar ou trabalhar ilegalmente.
O custo de vida é um dos maiores dos Estados Unidos e a maioria dos que tentam acabam quebrando a cara. Se esta for sua intenção tem lugares muito mais em conta pra fazer isto! Tem que ter um excelente inglês, construir um currículo top, conseguir um patrocinador pro visto, analisar o custo de vida e vir preparado financeiramente e até mesmo psicologicamente, já que muitas vezes é preciso ficar um período sem trabalhar, melhorar o idioma, convalidar o diploma, entre outros desafios. Ganha-se bem mais gasta-se muito também, e como eu disse é uma terra de gigantes, precisa estar muito preparado!
V. N.E.: Você já assistiu o seriado Silicon Valley no canal HBO? Como compararia ele com a realidade da vida no Vale do Silício?
Waldana: Sim. A série reproduz muito bem parte da realidade da vida no Vale do Silício. Inclusive quem tem o interesse em trabalhar em uma startup é ótimo pra treinar as gírias 😀
Termina aqui a entrevista com a Waldana que mora no Vale do Silício. Agradeço a ela pela participação. Você também mora no Vale do Silício? Como compara sua experiência com a da Waldana? Comente abaixo.
Lu…tenho fotos lindas do Vale. Quer que eu te mande pra ilustrar o post? Obrigada por compartilhar!
Se quiser mandar, fique à vontade, Waldana. Muito obrigada.
Nossa bateu um vontade louca de ir pro Vale do Silicio. Mas se Deus quiser em 2019 eu vou pro USA.
Bjss.
Eu adoro essa região da Califórnia e concordo com a Waldana… as possibilidades nos EUA são tão grandes que é interessante viajar por outros estados também!
Olá Lu!
Adorei o post!
Devo me mudar com minha família para o Vale. Você tem alguma dics de escola?