
Sempre quis saber como é viver em Michigan? Vamos conhecer mais um lado da vida neste estado americano através da experiência de adaptação da Fernanda Bottini que mora e estuda em Rochester Hills.
V.N.E.: De que parte do Brasil você é oriunda? Onde e há quanto tempo vive nos EUA? Como você e sua família vieram para cá? Como foi o processo imigratório de vocês?
Fernanda: Sou de São Paulo e moro atualmente em Rochester Hills, nos subúrbios de Michigan. Em julho do ano passado, meu pai recebeu uma proposta de ser transferido pros EUA por conta de um projeto que ele estava participando.
A proposta a princípio era de morar aqui por cerca de um ano, o tempo que levaria para o projeto acabar, mas em maio desse ano, eles fizeram outra proposta para que nos ficássemos aqui sem previsão de volta pro Brasil, com direito a aplicação pro greencard e etc.
Por conta do visto do meu pai ser de trabalho, e a empresa ter dado uma carta explicando tudo o que estava acontecendo, o processo foi bem rápido e levou menos de 1 mês para que tivéssemos o visto em mãos. Não tivemos muito o que nos preocupar com isso, e nem com passagens e moradia, já que a empresa estava pagando tudo pra gente.
V.N.E.: Quais foram as suas primeiras impressões dos EUA? O que mais te surpreendeu ao chegar aqui?
Fernanda: Assim que desembarquei me senti dentro de um filme. Tudo o que se vê por aqui é o que os filmes mostram, desde os animais dos desenhos animados até a escola. Eu estava muito empolgada com a mudança, sempre foi uma vontade minha morar fora do país e essa foi a oportunidade ideal, já que eu estava com toda a minha família aqui.
Eu me surpreendo todos os dias com esse lugar, lógico que sempre tem coisas que nos desagradam e agradam, mas olhando por um todo, eu acho que sou sempre mais surpreendida positivamente. Uma coisa que me surpreendeu muito, foi o jeito que eles te tratam por aqui.
Eu estava esperando um monte de gente sem educação e fria, assim como é mostrado pela mídia, porém quando cheguei aqui tive uma surpresa. De um modo geral os americanos são super educados com todos, e não são tão frios quanto eu esperava.
Logo quando cheguei, estranhei o fato deles falarem desculpa, obrigado e licença para tudo. Se eles passam na sua frente no supermercado eles pedem licença, e logo em seguida pedem desculpa, o que é muito engraçado.
Eles também tem o costume de abrir as portas pra você e esperarem você passar, e dizerem obrigado se você faz o mesmo. É estranho se acostumar com esse tipo de coisa no começo, acho que o Brasil perdeu um pouco desse costume, e chegar aqui e ter que reaprender essas coisas leva um tempo.
Apesar deles não serem tão frios, eles não demonstram qualquer tipo de carinho em público, eles não tem o habito de abraçar ou beijar para cumprimentar, e quando fazemos isso entre os nossos amigos, eles olham com estranheza.
Uma coisa que eu ainda me sinto incomodada aqui, é que algumas vezes em alguns lugares eles não fazem a menor questão de entender estrangeiros, mesmo que você tenha um bom inglês e não esteja falando algo absurdo. Lógico que não é de um modo geral, mas algumas pessoas fazem isso, e é um pouco desagradável pra você que está se esforçando para se comunicar.
V.N.E.: Como está sendo sua adaptação nos Estados Unidos? O que está sendo mais fácil, o que está sendo mais difícil de lidar até agora?
Fernanda: Tive uma boa adaptação e continuo tendo. Pelo fato de querer muito isso, e estar com a mente muita aberta pra mudança e dificuldades que eu teria que lidar, eu não tive muitos problemas com a adaptação aqui.
É muito fácil se adaptar com todas as coisas boas que tem aqui, o preço das coisas, a beleza do lugar, a segurança e a educação. Também não tive ou tenho muitos problemas com o idioma, sou uma pessoa que sempre gostou de inglês, então quando cheguei me dediquei muito a língua.
A adaptação com a escola foi difícil no começo, era tudo muito diferente e eu estava sozinha em um lugar totalmente novo. Mas logo fui me soltando e aprendendo a lidar com os problemas, então tudo ficou mais fácil.
Ainda é muito difícil lidar com a saudade, sinto muita falta dos meus amigos e da minha família, mas acho que isso nunca vai passar. Ah, e lógico o inverno daqui é super rigoroso e bastante longo, mas por conta do sistema de aquecimento em todos os lugares, fica mais fácil.
Por mais que todo mundo fale que o inverno é a pior parte e muito deprimente, eu não senti isso. Minha família e nossos amigos daqui, sempre dávamos um jeito de fazer alguma coisa mesmo com muita neve, isso facilitou bastante.
V.N.E.: O que mais muda ao estudar nos EUA versus no Brasil?
Fernanda: A maior diferença é o sistema de ensino daqui, como a maioria das pessoas sabem, você é quem escolhe as suas matérias. Eu tive uma sorte bastante grande porque não tive que fazer nenhum tipo de ciências no meu ultimo ano, isso porque eu já tinha créditos suficiente vindos do Brasil.
O jeito que eles ensinam e levam a educação a sério também é muito diferente, eles super valorizam esportes e artes. O horário das aulas também são bem diferentes, eu entrava as 7h30 da manhã e só saia as 14h30.
Outra coisa é que todas as aulas tem horário picado, por exemplo das 7h30 até 8h23. É super estranho ver números quebrados assim no Brasil, mas por aqui é super normal.
V.N.E.: Qual era seu nível de inglês antes de vir para cá? Como foi ter que se acostumar com a mudança de idioma ao estudar aqui? Você teve aulas de reforço nesse sentido, não precisou etc?
Fernanda:Meu inglês era intermediário, eu fiz um tempo de inglês no Brasil e achava que me virava bem, mas quando você vem pra cá tudo muda, é muito diferente ter pessoas nativas falando a língua. Tive que me acostumar rápido já que eu ia pra escola, isso foi um fator que me ajudou muito a melhorar meu inglês.
Eu não tinha outra alternativa a não ser aprender inglês pra poder ir bem na escola, então o processo foi um pouco mais rápido pra mim. Eu tive aulas de inglês que a empresa do meu pai pagou, a professora vinha em casa e me ajudava com algumas coisas da escola e me dava algumas dicas no geral.
Eu estudava em uma escola internacional, que é onde você encontra aulas de ESL (English as a Second Language), então eu fazia uma aula dessa na escola e ainda tinha a ajuda das minhas professoras.
Outra coisa muito boa de escolas com ESL é o fato de pessoas de várias partes do mundo estudarem lá, você tem amigos de varias nacionalidades que enfrentam o mesmo desafio que você. Além disso, os estudantes e os professores americanos já estão acostumados com gente do mundo todo e fazem um esforço maior pra te ajudar e entender o seu inglês.
V.N.E.: Você fez o último ano de high school aqui? Por quê ? Conte para nós como é estudar no high school americano e como foi sua transicao do high school brasileiro para o americano.
Fernanda: Eu mudei pra cá faltando dois meses para terminar meu terceiro ano, mas foi por opção minha. Meu pai tinha me dado a opção de ficar no Brasil até dezembro e terminar o ensino médio, ou vir pra cá e fazer o terceiro ano de novo.
Como eu me mudei em Setembro, era início das aulas aqui, então tive que começar o terceiro ano tudo de novo. Eu não me arrependo nenhum pouco de ter me formado 6 meses depois que meus amigos no Brasil e nem de ter começado tudo de novo, foi muito bom pra mim. Eu aprendi muita coisa, tive a chance de melhorar meu inglês e fazer amigos de todas as partes do mundo.
Eu, particularmente, gostei muito de ter estudado em um High School, foi uma experiência de vida incrível que eu não poderia ter tido em nenhum outro lugar. A pior parte de toda essa experiência foi o fato de não ter muitos amigos no começo, mas depois de um tempo eu fui me adaptando e fazendo amigos.
Gostei muito de ter feito amizade com pessoas de todos os lugares do mundo, e ter contato com diferentes culturas, isso me fez crescer muito e abrir mais a minha mente.
É estranho ter que se acostumar a todos os hábitos americanos, como por exemplo os horários das aulas, a real divisão entre jogadores de futebol americano e cheerleaders, e o resto dos alunos. Os horários das festas de escola também são estranhos, normalmente é das 19h às 22h, mesmo a Prom é esse horário. Foi uma transição um pouco complicada no começo por conta da língua, mas depois tudo melhorou. Hoje já estou muito adaptada a tudo.
V.N.E.: Você está cursando o ensino superior? Conte para nós suas experiência.
Fernanda:Estudo em uma community college, a uns 15 min de casa. Por enquanto faço só aulas de inglês, especificamente ESL, só para poder melhorar o meu inglês acadêmico. O processo foi fácil por ser uma community school e por eu estar fazendo somente ESL. Pretendo me mudar em breve, então não escolhi curso por enquanto.
Escolhi o college que eu estou porque é perto de casa, e era a mais barata, como ainda estamos em fase de transição, pagar uma universidade agora seria quase impossível.
V.N.E.: O que você mais curte em Rochester Hills?
Fernanda:Gosto muito do fato de ser uma cidade sossegada, não tem transito e é muito segura. Podemos ver veados andando nos quintais das casa, esquilos por todas as partes e etc. As quatro estações são bem definidas também, e a paisagem fica linda em cada uma delas, mas o outono é a estação mais bonita.
V.N.E.: O que você menos gosta da sua área?
Fernanda:Não ter nenhum tipo de transporte publico. Isso é bastante inconveniente, você tem que usar carro para ir em qualquer lugar porque as coisas são longes umas das outras.
V.N.E.: Sabemos que você está em idade universitária e estuda mas o que você faz no seu tempo livre? Você também trabalha?
Fernanda:Passo meu tempo com a minha família e meus amigos daqui, temos um grupo de brasileiros e sempre nos reunimos nos fins de semana, eles são como minha segunda família aqui. Não trabalho por conta do meu visto, não tenho permissão para trabalhar aqui, o que é bem chato.
V.N.E.: Há um (ou mais) perfil típico de pessoas que vivem na sua cidade? Qual?
Fernanda:Não consigo ver um perfil típico daqui, a diversidade cultural é grande e encontramos pessoas de vários tipos. A única coisa mais típica, é o jeito com que eles curtem o verão, quando chega essa época do ano, todo mundo da um jeito de ficar fora de casa e fazer atividades em parques o máximo possível. Por conta do inverno ser tão rigoroso por aqui, no verão eles aproveitam até o ultimo segundo.
V.N.E.: Você já visitou outros estados americanos? Quais?Quais foram seus favoritos e de quais deles você não gostou?
Fernanda: Fui para Nova Iorque, Atlanta, Orlando e Chicago. Todos foram em algum feriados prolongado, por exemplo spring break e thanksgiving.
Viajamos muito no primeiro ano, porque íamos voltar para o Brasil, então tentamos conhecer o máximo que pudemos. Fizemos a maioria das viagens de carro e fomos parando em algumas cidades no caminho, como Knoxville, TN e Cincinatti, OH.
Meu lugar favorito até agora é Chicago, a cidade é linda, limpa e da vontade de morar lá! NY me decepcionou um pouco, esperava gostar muito mais de lá, mas me senti meio em São Paulo. Como fui no Thanksgiving, a cidade estava cheia e estava frio, além de achar as coisas um pouco caras por lá.
V.N.E.: Sua vinda para os EUA é recente mas você já pensou em se mudar de Michigan para outro estado americano? Por que?
Fernanda:Já pensei em me mudar para estudar, mas todas as faculdades por aqui são caras e você tem que se programar bem pra isso. A unica que eu não gosto muita daqui é o inverno, que é bem severo e longo, mas você acaba se acostumando depois.
V.N.E.: Você e sua família pensam em voltar para o Brasil para morar algum dia?
Fernanda: Não pensamos por enquanto. Queremos curtir nossa experiencia aqui o máximo que pudermos, e gostamos muito do estilo que vida que levamos agora. Por mais que sentimos muita falta da nossa família, nossa vida é aqui agora e estamos aproveitando a oportunidade.
V.N.E.: Você tem conselhos para brasileiros que desejam viver nos EUA assim como você? Que dicas você daria para brasileiros que querem viver especificamente em Michigan?
Fernanda: Meu conselho é estar com a mente aberta a mudanças, se você quiser viver aqui como vivia no Brasil, com os mesmos hábitos e costumes, a vida vai ser mais complicada. Tentar se encaixar aqui e fazer o máximo para agir como eles, é sempre a melhor adaptação. Lógico que ninguém deve perder ou desistir da essência brasileira, mas temos que fazer algumas adaptações a tudo.
Michigan é lindo, com vários lugares para serem descobertos, porém o inverno é rigoroso e muito longo, são quase 5 meses de frio e neve, então você tem que ter uma boa preparação e base familiar para aguentar.
Já ouvi histórias de pessoas que entraram em depressão por conta do inverno, por não conseguir sair de casa no frio e por conta da quantidade de neve. Mas acho que sempre tem um jeito de aproveitar as coisas, e o melhor jeito é abrir a cabeça e tentar se adaptar da maneira que você achar melhor.
Acaba aqui a entrevista com a Fernanda. Agradeço a ela pelas respostas, dicas e fotos. Você mora em Michigan também? Conte sua experiência nos comentários abaixo.
Oi!!
Adorei a conversa! Obrigada por partilhar a sua experiência conosco Fernanda! Gostei muito de Michigan, mas pretendo viver em Miami.
Lu, tem alguma entrevista sobre alguém que more em Miami?
Beijos!!
Sim Letícia, a do Alex Como é morar em Miami?
Para vc moça que mora aí michigan,eu procuro minta tia quem mora aí,podes me ajudar
tive a oportunidade de passar algumas semanas em Rochester Hills em 2017, foi minha primeira vez fora do Brasil e confesso que fiquei tão maravilhado com o lugar que pensei em vender casa, carro e me mudar com minha família, tenho certeza de que meus filhos iriam amar, pois a qualidade de vida é muito boa. Pra minha esposa, a viagem foi apenas um passeio de férias, mas pra mim foi muito mais, de bicicleta, eu me aventurava pela cidade todos os dias, mesmo sem conhecer e com meu ingles muito limitado, mas nem liguei, entrei em venda de garagens, em lanchonetes, parques e consegui me virar muito bem. Detroit também é uma cidade muito legal, o contraste da modernidade com o antigo e o abandonado me deixou bastante impressionado, eu curti bastante. Sinto tanta saudade dessa viagem, que todos os dias entro no Google Maps pra ver como está o clima e navegar pelos lugares incríveis por onde passei, tenho certeza de que se um dia eu conseguir voltar lá, vou me sentir em casa. Um grande abraço a todos.